Momento de Inércia: Teorema dos eixos paralelos, Teorema dos eixos perpendiculares e Raio de giração.
Momento de Inércia: Teorema dos eixos paralelos, Teorema dos eixos perpendiculares e Raio de giração.
Neste post, exploraremos alguns resultados relevantes para o cálculo do momento de inércia de corpos rígidos. Inicialmente, demonstramos o teorema dos eixos paralelos, fundamental para determinar o momento de inércia quando o eixo de referência não passa pelo centro de massa do corpo. Em seguida, apresentamos o teorema dos eixos perpendiculares, aplicável a corpos planos. Esse teorema permite calcular o momento de inércia em relação a um eixo perpendicular ao plano, utilizando os momentos de inércia já conhecidos em dois eixos de referência que se interceptam em ângulo de 90°. Por fim, abordamos uma generalização interessante: é possível calcular o momento de inércia de qualquer corpo rígido em relação a um eixo arbitrário, substituindo-o por um aro de mesma massa e com um raio equivalente à distância necessária para concentrar toda a massa do corpo de forma que seu momento de inércia seja preservado – o que definimos como raio de giração. Além disso, reformulamos os teoremas apresentados de modo a expressá-los em termos do raio de giração.
Teorema dos Eixos Paralelos
Na figura, é representado um corpo rígido genérico de massa total, $M$, cujo centro de massa ($CM$) está localizado na origem do sistema de coordenadas. Um elemento de massa, $dm$, está posicionado em relação ao centro de massa de acordo com o vetor $\bf{d}$ $ = (a,b)$, indicado em vermelho. Também é exibido a posição, em relação ao centro de massa, de um eixo de referência, que é perpendicular ao plano do corpo e paralelo ao eixo que passa pelo centro de massa, representada pelo vetor $\bf{h}$ $= (x,y)$ em azul. Por fim, o vetor $\bf{r}$, na cor preta, mostra a posição do elemento de massa $dm$ em relação a esse eixo de referência.
Nosso interesse é calcular o momento de inércia desse corpo rígido em relação ao eixo de referência. Para isso, precisamos calcular a contribuição infinitesimal, $dI$, para o momento de inércia de cada elemento de massa $dm$ localizado a um distância do eixo de referência, $r$, módulo do vetor $\bf{r}$. Assim, pela definição do momento de inércia, podemos escrever:
$$dI = r^2 \cdot dm$$
Da geometria descrita na figura, podemos escrever o vetor $\bf{d}$, posição do $dm$ em relação ao $CM$, como uma soma entre os vetores $\bf{h}$ e $\bf{r}$.
$$\bf{d} = \bf{h} + \bf{r}$$
Daí,
$$\bf{r} = \bf{d} - \bf{h}$$
Assim, sabendo as componentes dos vetores $\bf{d}$ e $\bf{h}$ (veja a figura), conseguimos determinar as componentes do vetor $\bf{r}$. Vejamos:
$$\bf{r} = (a,b) - (x,y) $$
Logo,
$$\bf{r} = (a-x, b-y)$$
O módulo do vetor $\bf{r}$ é dado por:
$$r = \sqrt{(a-x)^2 + (b-y)^2}$$
Substituindo na primeira equação apresentada, temos:
$$dI = \left[ \sqrt{ (a-x)^2 + (b-y)^2 } \right]^2 \cdot dm $$
Simplificando e integrando ambos os membros da equação acima, escrevemos:
$$\int dI = \int [(a-x)^2 + (b-y)^2] \cdot dm $$
Daí,
$$ I = \int [(a^2 - 2ax + x^2)+ (b^2-2by+y^2)] \cdot dm $$
Ajustando os termos dentro da integral de uma maneira conveniente, expressamos:
$$ I = \int [(a^2 + b^2 - 2ax - 2by + x^2 +y^2)] \cdot dm $$
Assim,
$$ I = \int (a^2 + b^2) dm - \int 2ax dm - \int 2by dm + \int (x^2 +y^2) dm $$
Analisando termo a termo da equação acima, percebemos que:
$$ \int (a^2 + b^2) dm = \int d^2 dm = I_{CM}$$
Isto é, o momento de inércia do corpo em relação ao eixo que passa pelo seu centro de massa, $I_{CM}$;
$$ \int 2ax dm = 2aM \int \frac{x}{M} dm = 0$$
É, pela definição, a coordenada x da localização do centro de massa de um corpo rígido. De forma análoga para a coordenada y,
$$ \int 2ay dm = 2aM \int \frac{y}{M} dm = 0$$
O centro de massa está localizado na origem do sistema de coordenadas, ponto $(0,0)$, então, o resultado das duas integrais acima é zero;
Por fim, o termo
$$ \int (x^2 +y^2) dm = \int h^2 dm$$
Sendo $h$ constante, podemos escrever
$$ \int h^2 dm = Mh^2$$
Portanto, o momento de inércia de um corpo rígido em relação a um eixo de referência paralelo e localizado a uma distância $h$ do eixo que passa pelo seu centro de massa é dado por:
$$I = I_{CM} + Mh^2$$
Teorema dos Eixos Perpendiculares
Sem perda de generalidade, vamos calcular o momento de inércia do corpo em relação ao eixo $Z$. Sabemos que cada elemento de massa $dm$ contribui com um incremento $dI$ para o momento de inércia do corpo e, conforme definido acima, cada $dm$ está localizado a uma distância $c$ do eixo $Z$. Assim, podemos escrever:
$$dI = c^2 dm$$
Daí, integrando ambos os membros, obtemos:
$$I_Z = \int c^2 dm$$
Analisando a geometria da figura, é fácil perceber que a distância $c$ (linha tracejada em azul) está relacionada com as distâncias $a$ e $b$ -- representadas respectivamente, pela linha tracejada em vermelho e linha tracejada em amarelo -- por meio do teorema de Pitágoras. Ou seja,
$$c^2 = a^2 + b^2$$
Unindo as duas últimas equações, podemos expressar:
$$I_Z = \int (a^2 + b^2) dm$$
Daí,
$$I_Z = \int a^2 dm + \int b^2 dm$$
Onde
$$\int a^2 dm$$
é o momento de inércia do corpo em relação ao eixo $X$, $I_X$. De forma análoga,
$$\int b^2 dm$$
é o momento de inércia do corpo em relação ao eixo $Y$, $I_Y$. Assim, podemos escrever:
$$I_Z = I_X + I_Y$$
Portanto, a expressão acima relaciona o momento de inércia de um corpo rígido plano em relação a um eixo perpendicular ao seu plano com os momentos de inércia medidos em relação aos eixos $X$ e $Y$ que se interceptam em um ponto.
Aro equivalente e Raio de Giração
$$k = \sqrt \frac{I}{M} $$
O raio de giração pode ser útil para facilitar a visualização da distribuição de massa de corpos complexos. De modo geral, um maior momento de inércia corresponde a um raio de giração maior, o que indica que a massa está distribuída mais distante do eixo de referência.
Teorema dos Eixos Paralelos em Termos do Raio de Giração
Do teorema dos eixos paralelos, temos:
$$ I = I_{CM} + Mh^2$$
Dividindo ambos os membros pela massa total $M$, obtemos:
Da expressão do raio de giração e da ultima equação, podemos escrever:
$$ k^2 = k_{CM}^2 + h^2$$
Essa equação mostra que o raio de giração $k$ em relação a um eixo qualquer é dado pelo raio de giração $k_{CM}$ em relação a um eixo que passa pelo centro de massa, acrescido da distância $h$ entre os dois eixos. Isto é, o deslocamento do eixo de referência em relação ao centro de massa contribui para o aumento do raio de giração do corpo.
Teorema dos Eixos Perpendiculares em Termos do Raio de Giração
$$I_Z = I_X + I_Y$$
Dividindo ambos os membros pela massa total $M$, expressamos:
$$\frac{I_Z}{M}=\frac{I_X}{M} + \frac{I_Y}{M}$$
Essa expressão mostra que o raio de giração em relação a um eixo perpendicular ao plano do corpo ($k_Z$) está relacionado aos raios de giração em relação aos eixos ortogonais contidos no plano do corpo ($k_X$ e $k_Y$).
Bibliografia
NUSSENZVEIG, H. M. Curso de Física Básica. 1, Mecânica. São Paulo, Brasil: Blucher, 2018.
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